O Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou uma moção que reconhece como genocídio o assassinato em massa de armênios por turcos otomanos durante a Primeira Guerra Mundial.
A votação, por 27 a 21, suscitou a reação do presidente da Turquia, Abdullah Gul, que qualificou a medida de "inaceitável".
Temendo um estremecimento das relações com Ancara, a Casa Branca se disse decepcionada com a decisão do comitê parlamentar, que poderia levar à votação do texto no plenário do Legislativo.
A BBC Brasil explica os episódios históricos e o que está em jogo no acalorado debate.
A decisão do comitê da Câmara americana causou polêmica porque entrou em um ponto espinhoso da história de turcos e armênios.
Comunidades armênias em várias partes do mundo lutam há décadas para que o suposto massacre de seu povo pelos turcos otomanos entre 1915 e 1917 seja reconhecido como o primeiro genocídio do século 20.
Muitos historiadores no Ocidente acreditam que a morte daquelas centenas de milhares de pessoas pode ser considerada como tal. Mas outros países se recusam a rotular o episódio histórico dessa maneira.
O artigo 2º da Convenção da ONU sobre Genocídio, de dezembro de 1984, descreve o genocídio como atos realizados com a finalidade de "destruir, em todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano - que enfrentava a Tríplice Entente, formada por Grã-Bretanha, Rússia e França - convocou todos os seus homens para lutar.
O recrutamento não foi bem recebido por muitas das minorias étnicas e religiosas do Império. Os armênios eram um dos grupos que se rebelaram contra a guerra e a opressão do governo central. Muitos se uniram ao inimigo. Em 24 de abril de 1915, as autoridades otomanas reuniram e mataram centenas de líderes armênios que viviam no Império. Outros foram deportados. Em maio, a comunidade armênia, com dois ou três milhões de pessoas, foi forçada a deixar o Império Otomano.
A comunidade armênia diz que, os dois anos seguintes, aproximadamente 1,5 milhão de armênios teriam sido mortos pelos turcos. Muitos padeceram na fuga para a Síria e a Mesopotâmia (atual Iraque).
Até hoje, muitos armênios acreditam que foi o massacre de seu povo que abriu caminho para o Holocausto. "Afinal, quem se lembra do aniquilamento de armênios?", teria dito Hitler.
Para a Turquia, o número de armênios mortos é em torno de 300 mil - um número alto, mas não maior que o de turcos que também morreram na época.
Para o governo turco, as mortes foram o resultado de uma guerra civil, agravada pela fome e doença que castigaram o decadente Império.
Cerca de 20 países já reconheceram formalmente que os turcos otomanos perpetraram genocídio contra os armênios, entre os quais a Argentina, Bélgica, Canadá, França, Itália, Rússia e Uruguai.
A Grã-Bretanha, os Estados Unidos e Israel utilizam terminologias diferentes e evitam o termo.
Até hoje, mais de noventa anos depois do episódio, Armênia e Turquia não mantêm relações diplomáticas. A fronteira comum entre os dois países permanece fechada.
Os armênios continuam sendo um dos povos mais dispersos do mundo. Não há números exatos sobre os armênios da diáspora, mas estima-se que as maiores comunidades fiquem na Rússia, com mais de 2,2 milhões, e Estados Unidos, com 1,2 milhão.
Também há grandes comunidades na Geórgia, França e Irã, entre outros. No Brasil, o número de armênios ficaria entre 60 a 70 mil.
Logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, foi proclamada a República Independente da Armênia, que durou apenas até o início dos anos 20, quando o país foi incorporado à União Soviética.
Em 1991, a Armênia reconquistou sua independência e embarcou num programa de reformas econômicas que trouxeram alguma estabilidade e crescimento ao país, que ainda tem altos índices de pobreza e desemprego.
Na Turquia, o código penal proíbe qualquer "pedido de reconhecimento do genocídio armênio". No fim de 2006, Ancara protestou contra uma lei do Parlamento francês que, ao contrário, proibia a negação do episódio.
Apesar da tensão entre Turquia e França - a primeira suspendou os laços militares com a segunda em retaliação - a União Européia já esclareceu que a posição do governo turco sobre a história não interfere em uma possível entradado país no bloco.
Fonte: BBC Brasil
A votação, por 27 a 21, suscitou a reação do presidente da Turquia, Abdullah Gul, que qualificou a medida de "inaceitável".
Temendo um estremecimento das relações com Ancara, a Casa Branca se disse decepcionada com a decisão do comitê parlamentar, que poderia levar à votação do texto no plenário do Legislativo.
A BBC Brasil explica os episódios históricos e o que está em jogo no acalorado debate.
A decisão do comitê da Câmara americana causou polêmica porque entrou em um ponto espinhoso da história de turcos e armênios.
Comunidades armênias em várias partes do mundo lutam há décadas para que o suposto massacre de seu povo pelos turcos otomanos entre 1915 e 1917 seja reconhecido como o primeiro genocídio do século 20.
Muitos historiadores no Ocidente acreditam que a morte daquelas centenas de milhares de pessoas pode ser considerada como tal. Mas outros países se recusam a rotular o episódio histórico dessa maneira.
O artigo 2º da Convenção da ONU sobre Genocídio, de dezembro de 1984, descreve o genocídio como atos realizados com a finalidade de "destruir, em todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso".
Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano - que enfrentava a Tríplice Entente, formada por Grã-Bretanha, Rússia e França - convocou todos os seus homens para lutar.
O recrutamento não foi bem recebido por muitas das minorias étnicas e religiosas do Império. Os armênios eram um dos grupos que se rebelaram contra a guerra e a opressão do governo central. Muitos se uniram ao inimigo. Em 24 de abril de 1915, as autoridades otomanas reuniram e mataram centenas de líderes armênios que viviam no Império. Outros foram deportados. Em maio, a comunidade armênia, com dois ou três milhões de pessoas, foi forçada a deixar o Império Otomano.
A comunidade armênia diz que, os dois anos seguintes, aproximadamente 1,5 milhão de armênios teriam sido mortos pelos turcos. Muitos padeceram na fuga para a Síria e a Mesopotâmia (atual Iraque).
Até hoje, muitos armênios acreditam que foi o massacre de seu povo que abriu caminho para o Holocausto. "Afinal, quem se lembra do aniquilamento de armênios?", teria dito Hitler.
Para a Turquia, o número de armênios mortos é em torno de 300 mil - um número alto, mas não maior que o de turcos que também morreram na época.
Para o governo turco, as mortes foram o resultado de uma guerra civil, agravada pela fome e doença que castigaram o decadente Império.
Cerca de 20 países já reconheceram formalmente que os turcos otomanos perpetraram genocídio contra os armênios, entre os quais a Argentina, Bélgica, Canadá, França, Itália, Rússia e Uruguai.
A Grã-Bretanha, os Estados Unidos e Israel utilizam terminologias diferentes e evitam o termo.
Até hoje, mais de noventa anos depois do episódio, Armênia e Turquia não mantêm relações diplomáticas. A fronteira comum entre os dois países permanece fechada.
Os armênios continuam sendo um dos povos mais dispersos do mundo. Não há números exatos sobre os armênios da diáspora, mas estima-se que as maiores comunidades fiquem na Rússia, com mais de 2,2 milhões, e Estados Unidos, com 1,2 milhão.
Também há grandes comunidades na Geórgia, França e Irã, entre outros. No Brasil, o número de armênios ficaria entre 60 a 70 mil.
Logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, foi proclamada a República Independente da Armênia, que durou apenas até o início dos anos 20, quando o país foi incorporado à União Soviética.
Em 1991, a Armênia reconquistou sua independência e embarcou num programa de reformas econômicas que trouxeram alguma estabilidade e crescimento ao país, que ainda tem altos índices de pobreza e desemprego.
Na Turquia, o código penal proíbe qualquer "pedido de reconhecimento do genocídio armênio". No fim de 2006, Ancara protestou contra uma lei do Parlamento francês que, ao contrário, proibia a negação do episódio.
Apesar da tensão entre Turquia e França - a primeira suspendou os laços militares com a segunda em retaliação - a União Européia já esclareceu que a posição do governo turco sobre a história não interfere em uma possível entradado país no bloco.
Fonte: BBC Brasil
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