segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

A Corrida de São Silvestre

Uma festa nas ruas de São Paulo

Em meio às comemorações de um novo ano, o povo de São Paulo aprendeu a conviver com uma outra festa: a Corrida de São Silvestre. Para os atletas, o clima e a receptividade do povo paulistano não poderia ser melhor. Logo cedo, no dia 31 de dezembro, as ruas da cidade anunciam o espetáculo, principalmente a avenida Paulista, ponto de chegada e partida de quinze mil corredores.

Prova foi disputa à noite até 1990
Acervo/Gazeta Press

Esse rito se repete há quase oito décadas. Tudo começou com o jornalista Cásper Líbero, que se inspirou numa corrida noturna francesa em que os competidores carregavam tochas de fogo durante o percurso. Era o ano de 1924. Depois de assistir ao evento em Paris, ele não teve dúvidas de trazer o projeto para São Paulo. À meia-noite de 31 de dezembro daquele mesmo ano foi disputada a primeira São Silvestre, que homenageia o Santo do dia.

A participação, contudo, ficou restrita aos homens e coube a Alfredo Gomes, atleta do Clube Espéria, escrever o seu nome na história desta prova como o primeiro vencedor. Naquela época, as corridas de rua eram praticadas de forma esporádica no Interior e na Capital paulista, o que acabou contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do pedestrianismo no Brasil.

Cásper Líbero era um apaixonado pelo esporte e, mesmo diante das maiores dificuldades, como nas edições de 1932 durante a Revolução Constitucionalista, em que os paulistas lutaram contra outros estados do país, e em plena II Guerra Mundial, não mediu esforços para que a prova acontecesse. Quando veio a falecer, em 1943, a competição já tinha conquistado os paulistanos e continuou mais viva ainda.

Até a sua 20ª edição, a São Silvestre era disputada somente por brasileiros. A partir de 1945, assumiu caráter internacional com a presença de convidados do Chile e Uruguai. Depois disso, correram pela ruas de São Paulo atletas americanos, europeus, africanos e asiáticos. Na nova fase, o atletismo nacional saiu-se vitorioso somente nos dois primeiros anos, quando Sebastião Monteiro cruzou em primeiro a linha de chegada.

Quando a ONU instituiu o Ano Internacional da Mulher, em 1975, o jornal A Gazeta Esportiva, organizador da prova e de olho nos acontecimentos mundiais, instituiu a primeira competição feminina, que foi realizada em conjunto com a masculina, mas com a classificação em separado. A campeã da inédita prova foi a alemã Christa Valensieck, que voltou para repetir o feito no ano seguinte.

Diversas alterações ocorreram na estrutura da São Silvestre a partir de 1989 com o objetivo de aprimorar o seu nível técnico. Inverteu-se o sentido do percurso, separou-se a corrida masculina da feminina dando maior destaque a ambas e alterou-se o horário da prova para o período da tarde. Em 1991, o percurso foi ampliado para 15 mil metros, atendendo às especificações da Associação Internacional das Fedeações de Atletismo (IAAF) para poder integrar o calendário de provas de rua.

A 74ª edição ganhou mais duas novidades: chip para os corredores de elite e a abertura das duas pistas da Paulista para a chegada. As mudanças tiveram o objetivo de preparar a prova para a virada do século, bem como aumentar o número de participantes, ambas com sucesso.

Curiosidades

• O êxito das Voltas de São Paulo, cuja primeira edição foi realizada no dia 12 de outubro de 1918, e de Piracicaba (1919), além de outras competições a partir de 1921, em Taubaté, Iguapé, Sorocaba e Batatais incentivaram o jornalista Cásper Líbero a criar a Corrida de São Silvestre.

• Quando recebeu o convite da diretoria do Clube Regatas Tietê para participar da São Silvestre, Jorge Mancebo ficou em dúvida entre participar da corrida ou passar o réveillon com a família. Na segunda edição da prova, ele chegou na frente e faturou o título.

• O número de concorrentes da primeira São Silvestre foi bem pequeno: 60 esportistas se inscreveram e, destes, apenas 48 compareceram para disputar a corrida. Pelo regulamento, somente 37 foram classificados ao chegarem três minutos atrás do primeiro colocado. Atualmente, a competição do dia 31 de dezembro leva 15 mil participantes às ruas da Capital paulista.

• Por duas vezes, a São Silvestre registrou a presença de índios. Fisicamente aptos por causa do contato com a natureza, os nativos envolveram as edições de 1964 e 1982 em uma expectativa nunca antes registrada. Participaram da 40ª prova, uma equipe de cinco integrantes da Ilha do Bananal, sendo três das tribos Craós e dois Carajás. Na ocasião, um dos organizadores da corrida, Aurélio Bellotti, e o indianista, Willy Aureli, viajaram até o acampamento dos indígenas para orientá-los sobre os aspectos técnicos da disputa. Durante a competição, faltou aos índios a experiência e o condicionamento físico dos adversários. Graças à iniciativa, que teve o apoio da Funai, a 58ª São Silvestre contou com representantes dos Xavantes e Serenas. A primeira tribo trouxe dez corredores e a segunda três. Um grupo de dança típica se apresentou em Interlagos, completando a festa do último dia do ano.• A pior classificação do Brasil na Corrida de São Silvestre ocorreu em 1972. Nosso melhor atleta, Irides Silva, chegou apenas em 17º lugar.

• Campeão dos 5 e 10 mil metros na Olimpíada de Melbourne, na Austrália, o russo Vladimir Kutz era o grande destaque da 33ª São Silvestre. Entretanto, Kutz ficou somente com a oitava posição, não por falta de méritos. Ele caminhou pelas praias de Santos e o passeio lhe rendeu bolhas nos pés. O atleta russo teve uma carreira curta no atletismo internacional, porém, marcante. Além dos dois títulos olímpicos, Kutz quebrou sete recordes mundiais.

• A edição comemorativa dos 50 anos de São Silvestre teve a participação de estrelas de 29 países e a homenagem a antigos vencedores. Receberam o troféu Cásper o tcheco Emil Zatopek, o brasileiro Sebastião Alves Monteiro, o uruguaio Oscar Moreira, o chileno Raul Inostroza, o finlandês Viljo Heino, os belgas Lucien Theys, Gaston Roelants e Henry Clerck, o alemão Erik Kruzciky, o iuguslavo Franjo Mihalic, os ingleses Kennet Norris e Martin Hyman, o português Manoel Faria, o argentino Osvaldo Suarez, o francês Hamoud Ameurs, os colombianos Victor Mora e Álvaro Mejia Flores; os mexicanos Juan Martinez e Rafael Tadeo Palomares, o norte-americano Frank Shorter e o costa-riquenho Rafael Angel Perez.

• Anteriormente disputada à noite, a partir de 1989 a Corrida Internacional de São Silvestre passou a ser realizada às 17 horas (sendo às 15h15 para as mulheres). Historicamente, o equatoriano Rolando Vera é o único atleta a conquistar vitórias nos anos de mudança dos horários. Ganhador da prova durante quatro anos consecutivos, de 1986 a 89, Vera foi o vencedor da última prova disputada à noite (1988) e também da primeira promovida durante o dia, no ano seguinte. A curiosidade é que a também equatoriana Martha Tenório é a única mulher a ter vitórias na São Silvestre nos dois períodos: ela venceu em 87 e em 1997.


Fonte: Fundação Cásper Líbero

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