segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Lista: dez preocupações científicas que você pode tirar da cabeça

New York Times explica dúvidas que causam mais dor de cabeça do que deveriam.

São coisas nas quais não é preciso pensar, de celulares cancerígenos a sacolas plásticas.

Durante a maior parte do ano, é dever da imprensa analisar o universo buscando formas de estragar seu dia. Quanto mais medo, culpa ou angústia uma notícia induzir, melhor. Mas agora você talvez queira dar um tempo, então elaboramos uma lista com 10 coisas com as quais você não deve se preocupar.

Agora, não posso garantir que nenhuma dessas preocupações seja infundada, porque não posso garantir que nada seja absolutamente seguro, incluindo atividades como ler um jornal. Com dinheiro suficiente, um pesquisador empreendedor com certeza poderia identificar uma substância química na impressão do jornal ou no teclado que fosse perigosamente cancerígena para qualquer rato que lesse diariamente trilhões de colunas sobre ciência.

O que eu posso realmente garantir é que não passaria nem um milésimo de segundo das minhas férias me preocupando com nenhuma dessas 10 coisas:

1. Hot-dogs assassinos

O que está acontecendo com as salsichas? Primeiro, o medo do nitrito. Depois, o alarme de que o ato de grelhar produz substâncias cancerígenas. Depois, quando essas ameaças se amansaram, os guerreiros da salsicha caíram nas garras daquele velho vilão: a gordura saturada.

Mas hoje até a gordura saturada não parece tão ruim assim, graças a um rigoroso experimento em Israel divulgado este mês. As pessoas em dieta de baixo carboidrato, sem restrição de calorias, consumiram mais gordura do que outro grupo forçado a cortar gordura e calorias, mas esses “gordurófilos” perderam mais peso e terminaram tendo melhores níveis de colesterol. E esse foi só o último de uma série de estudos contradizendo as previsões da classe médica sobre gordura saturada.

Se você realmente quer se preocupar, foque nos carboidratos dos pãezinhos. Mas em relação à salsicha gordurosa (ou qualquer outra coisa gordurosa das férias), se eu fosse você, relaxaria.

2. O ar-condicionado do carro que acaba com o planeta

Não importa o quanto você se sinta culpado por sua emissão de carbono no meio ambiente, você não tem que enfrentar um calor escaldante a caminho da praia. Após testes em velocidade a 105 km/h, os especialistas em quilometragem do edmunds.com informam que a resistência aerodinâmica por causa da janela aberta invalida qualquer economia de combustível obtida com o ar condicionado desligado.

3. Frutos proibidos que vêm de longe

Você tem coragem de comer kiwi? A pergunta faz sentido, porque, afinal de contas, uma “quilometragem de fruta” maior não significa mais emissão de gases do efeito estufa. Alimentos vindos de outros países geralmente são produzidos e enviados com muito mais eficiência do que os alimentos produzidos aqui, especialmente se os produtores locais transportam suas mercadorias por aí em pequenos caminhões. Um estudo demonstrou o transporte de maçãs da Nova Zelândia para o Reino Unido emite menos carbono do que o transporte de uvas produzidas e vendidas no Reino Unido.

4. Celulares cancerígenos

Alguns neurocirurgiões importantes foram notícia no programa de TV de Larry King este ano ao demonstrarem o medo que têm de celulares, portanto estabelecendo de uma vez por todas que a epidemiologia é muito mais complicada do que parece.

Como minha colega Tara Parker-Pope observou, não existe mecanismo biológico para que a radiação não-ionizante dos celulares cause câncer, e estudos epidemiológicos não conseguiram encontrar relações consistentes entre o câncer e o uso de celulares.

É possível que os médicos preocupados de hoje sejam inocentados, mas aposto que eles serão mais lembrados como os promotores da velha ameaça do “câncer causado por linhas de transmissão de força” – ou como a avó de James Thurber, que cobriu as tomadas da parede para evitar que a eletricidade vazasse.

Dirigir e falar ao telefone ao mesmo tempo realmente representa um risco, mas você deve se preocupar mais com os outros carros do que com câncer.

5. Sacolas de plástico diabólicas

Aprenda com a Agência de Proteção Ambiental: sacolas de papel não são melhores para o meio ambiente do que sacolas de plástico. As evidências de análises de análises de ciclo de vida são favoráveis às sacolas plásticas. Elas exigem muito menos energia – e emissão de gases do efeito estufa – para serem produzidas, transportadas e recicladas. Geram menos poluição do ar e das águas. E ocupam bem menos espaço em depósitos de lixo.

6. Garrafas de plástico tóxicas

Por anos, especialistas sistematicamente aprovaram o uso do bisfenol-a, ou BPA, que é usado em garrafas de policarbonato e muitos outros produtos de plástico. Sim, ele pode ser prejudicial se administrado em doses enormes em roedores, mas isso também pode acontecer com substâncias químicas encontradas em inúmeros alimentos que comemos todos os dias. A dosagem é que faz o veneno.

Mas este ano, depois de uma campanha realizada por alguns pesquisadores e ativistas, um comitê federal expressou preocupação em relação ao BPA presente em mamadeiras. Em seguida, veio o pânico. Apesar de não haver absolutamente nenhuma evidência de perigo aos humanos, o Wal-Mart retirou de suas prateleiras produtos contendo BPA, e políticos começaram a discutir proibições envolvendo a substância. Alguns especialistas temem os recalls, que poderiam fazer deste o alarme de saúde mais caro da história.

A Nalgene já anunciou que irá eliminar o BPA de suas garrafas super-resistentes. Por causa da atenção do público, a companhia provavelmente não teve outra escolha. Mas minha velha garrafa de tampa azul da Nalgene, a que é feita de BPA e que sobreviveu a geleiras, florestas e desertos, ainda está aqui ao meu lado, cheia de água. Se algum dia tentarem realizar o recall dela, terão que fazê-lo por cima do meu cadáver.

7. Tubarões assassinos

Em todo o mundo no ano passado, houve um total geral de um ataque de tubarão fatal (no Pacífico Sul), segundo o Arquivo Internacional de Ataques de Tubarão, da Universidade da Flórida.

8. O gelo que está desaparecendo no Ártico

O derretimento no Ártico no verão passado foi bastante ruim, mas nesta primavera tivemos notícias piores. A maioria dos especialistas esperava ainda mais derretimento este ano, e alguns cientistas criaram uma sensação na mídia ao prever que até o Pólo Norte ficariam completamente sem gelo até o fim do verão.

Apesar disso, até agora há mais gelo lá do que nessa mesma época no ano passado, e a maioria dos especialistas não esperam um novo recorde. Você ainda pode se preocupar com tendências a longo prazo no Ártico, mas pode descartar pelo menos uma preocupação: parece que pelo menos neste verão Papai Noel ainda pode pedir seus drinques com gelo.

9. A massa que está faltando no Universo

Mesmo o destino do Universo – expansão regular ou colapso cataclísmico – dependendo da quantidade de matéria escura que está em algum lugar lá fora, você pode ficar descansado que ninguém vai culpar você por isso. E a maioria dos especialistas duvida que esse colapso vá ocorrer durante suas férias.

10. Buracos de minhoca não-identificados

Será que suas férias podem ser interrompidas por uma queda repentina dentro de um buraco de minhoca? Se fizermos uma análise da teoria do tempo e do espaço e do filme “Jumper”, eu diria que a possibilidade não pode ser eliminada. Eu também acrescentaria que se o buraco de minhoca me levar para um universo alternativo, há uma grande chance de minha bagagem se perder no meio do caminho.

Mas, ainda assim, eu não me preocuparia muito com isso. Em um universo alternativo, talvez você não tenha que passar o resto do ano se preocupando com a matéria escura do universo ou com ratos de laboratório. Talvez você consiga até comprar uma daquelas garrafas da Nalgene.

Fonte: John Tierney (New York Times)

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